terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Chuva


o ceu ta chorando

o ceu ta berrando com força


o ceu se abre e todo mundo chora pra ele

mas é hora dele devolver o que lhe foi confiado


e desvirginar um ar sujo e estagnado

de tirar o veu velho e colocar um veu novo nos nossos olhos


trazer por alamedas por penas de passaros

e por cabelos e por olhos


trazer o que lhe foi deixado

e sem mais nada, sem pedir nada em troca


sem exigir de nos retribuição

ou taxa ou pagamento ou palavra criada por homem


deixamos nosas roupas na soleira da porta

corremos nus por uma floresta de caules interminaveis e translucidos


deixamos nossos olhos onde eles se abraçam

deixamos nossas bocas onde elas ficaram


deixamos afinal tudo quanto não somos pra tras

e deixamos tudo que somos onde lhe cabem seus lugares


seus lugares onde seus braços enlaçam a agua que me beija

seus ombros onde a agua encontra seu lugar adequado


um cavalo nos guia por asfalto esfarelado

seu pelo se mistura ao cinza da chuva citadina


o reino alagado de rios novos criados por homens

some junto com nossas roupas


some junto com o resto

que é so o que restava


e que agora não passa de nada


o nada na chuva

Nenhum comentário: